Degustação
A quarta edição do International Tasting, a grande degustação de clássicos da vitivinicultura mundial promovida pela revista ADEGA, trouxe um painel eclético e grandioso – como tem sido desde a primeira. As provas deste ano começaram com uma vertical da maior referência do Penedès, passaram pelo novo cult do Vale do Uco, abarcaram brancos de diferentes procedências, elevaram-se em outra vertical de Romanée-Saint-Vivant e finalizaram em Portos da década de 1960.
Em quatro anos, os participantes do International Tasting tiveram em suas taças alguns dos mais célebres vinhos do planeta em degustações verticais. O evento, com vagas limitadas e apresentação feita pelos próprios produtores, já contou, entre outros, com Enrique Tirado apresentando seu Don Melchor, Michel Friou trazendo safras de Almaviva, François Perrin mostrando o potencial de seus Château de Beaucastel, Tomás Roquette servindo seu ícone Vinha da Ponte, entre outros ícones como Château Valandraud, Stag’s Leap, Quinta Vale D. Maria, Taylor’s, Quinta da Boa Vista, além de horizontal de Domaine de La Romanée-Conti.
Desta vez, o painel selecionado por ADEGA contou com um dos principais vinhos espanhóis, o Mas La Plana, com safras históricas apresentadas por ninguém menos que Miguel Torres Maczassek, atual diretor das propriedades da família Torres. Esta foi a primeira degustação no sábado, dia 10 de novembro, no Hotel Unique, em São Paulo. Depois de um saboroso almoço no Skye (acompanhado pelo Bueno Bellavista Desirée Brut Rosé – que representou o que o Brasil faz de melhor), um dos jovens enólogos que vêm liderando uma revolução na vitivinicultura argentina, Sebastián Zuccardi revelou o seu Piedra Infinita, um dos vinhos mais celebrados da América do Sul nos últimos anos. Em seguida, nossa equipe preparou uma prova com brancos de diversas procedências que nos encantaram durante o ano.
A última degustação do dia, contudo, foi uma vertical de Domaine de La Romanée-Conti, com quatro safras de um de seus vinhos que mais vem surpreendendo os críticos atualmente, o Romanée-Saint- -Vivant. No dia seguinte, domingo, o fim de semana de degustações épicas terminou com uma série de Vinhos do Porto da Krohn, uma seleção de Colheitas e Vintages de safras míticas dos anos 1960. Confira a seguir o que rolou de melhor em cada uma das provas deste ano.
PROVAS
Vertical de Mas La Plana
Vertical de Piedra Infinita
Tendências e descobertas
Vintages e Colheitas Krohn Port
Vertical de Romanée-Saint-Vivant
Mas La Plana
O vinhedo Mas La Plana é o mais cultuado da família Torres, da Espanha. “Mas”, no dialeto local, significa “casa de campo”. Plana, como se pode imaginar, seria o plano. Miguel Torres Maczassek contou que seu pai teve a ideia de plantar Cabernet Sauvignon no local, em 1966, quando viu o amigo Piero Antinori cultivando a variedade na Toscana (ele criaria um dos primeiros Super Toscanos, o Tignanello).
Miguel Torres Maczassek apresentou o grande ícone da família Torres, o cultuado Mas La Plana
Miguel A. Torres precisou ser persistente com Mas La Plana, pois seu pai, Miguel Torres Carbó, não gostava do vinho. Apesar da controvérsia familiar, estimulado por sua mãe, ele colocou o vinho em um famoso concurso, o World Wine Olympics do Gault-Millau de 1979, em que Mas La Plana (então chamado Gran Coronas Etiqueta Negra, da safra 1970) acabou vencendo. “O concurso nunca mais se repetiu depois que um vinho espanhol venceu”, diz Maczassek.
O atual diretor da Torres lembra que os primeiros Mas La Plana eram blends com 75% de Cabernet Sauvignon e o restante de outras variedades. Em 1975, ele se tornou apenas Cabernet Sauvignon com Cabernet Franc e, em 1981, um Cabernet Sauvignon em pureza. Apesar disso, ele revela que o vinho não deixa de ser um blend, pois o vinhedo Mas La Plana está dividido em duas partes, uma mais alta (com solos mais duros e calcários) e outra mais baixa (com solos aluviais, próximos ao rio). “Ao todo, na verdade, temos de 30 a 35 vinhos por ano que compõem o blend de Mas La Plana”, contou.
Sobre a evolução do Mas La Plana, Maczassek conta que, em 1981, o rendimento da produção foi bastante reduzido. Em 1990, eles trocaram o tipo de carvalho usado, saindo do americano e indo para o francês. Nesse ponto, vale lembrar que, todos os anos, os Torres convidam tanoarias para fornecerem suas melhores barricas. Aí, eles envelhecem o vinho e chamam os tanoeiros para uma prova às cegas. Quem ganha a prova torna-se Mas La Plana fornecedor da Torres. Maczassek conta também que não só os Mas La Plana, mas vários vinhos da Torres, começaram a ganhar mais estrutura a partir de meados da década de 1980, pois até então seu avô, Miguel Torres Carbó, gostava de vinhos mais suaves e não deixava seu pai implementar 100% de suas ideias. Por fim, em 1998, Maczassek diz que as vinhas envelheceram. “A partir dos anos 2000, o vinho se equilibrou, entre acidez e taninos, devido à idade das videiras”, apontou.
Vinhos avaliados
AD 92 pontos
GRAN CORONAS (MAS LA PLANA) BLACK LABEL 1977
Torres, Penedès, Espanha (Devinum - não disponível). Composto de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, com estágio de seis meses em barricas novas de carvalho americano e 12 meses em barricas de carvalho francês de segundo e terceiro usos. Lembra um Bordeaux, com as notas de especiarias e de ervas envolvendo os aromas de frutas secas e em compota, além de toques terrosos, de tabaco, de fumo. Chama atenção pela acidez. Um vinho que reflete um ano de clima mais úmido, com taninos muito finos e que não nega as notas herbáceas das Cabernet. Álcool 12,7%. EM
AD 92 pontos
MAS LA PLANA 1989
Torres, Penedès, Espanha (Devinum - não disponível). Elaborado exclusivamente a partir de Cabernet Sauvignon, com estágio de seis meses em barricas novas de carvalho americano e 12 meses em barricas de carvalho francês de segundo e terceiro usos. Mais fechado no nariz, com mais fruta madura acompanhada de notas minerais, de ervas e de especiarias doces. Nítido e não mostrando muitos sinais de evolução. Comparado ao 1977, aqui já há uma mudança no perfil dos taninos, com mais textura, mais meio de boca e mais precisão, além de profundidade e persistência. Álcool 12,5%. EM
AD 93 pontos
MAS LA PLANA 1999
Torres, Penedès, Espanha (Devinum - não disponível). Elaborado exclusivamente a partir de Cabernet Sauvignon, com estágio de 18 meses em barricas novas de carvalho francês de Tronçais e Nevers. Comparado ao 1977 e ao 1989, aqui já aparece um caráter de fruta negra, com as notas de ervas, de alcaçuz e de especiarias acompanhando toda essa fruta. Bem frutado, com mais corpo, mais volume de boca e final persistente e mais cheio, seguido de toques tostados, terrosos e de frutos secos. Álcool 14%. EM
AD 91 pontos
MAS LA PLANA 2006
Torres, Penedès, Espanha (Devinum - não disponível). Elaborado exclusivamente a partir de Cabernet Sauvignon, com estágio de 18 meses em barricas novas de carvalho francês de Tronçais e Nevers. Ainda fechado, comparado às safras 1977,1989 e 1999, tem estilo de mais madurez de fruta nos aromas acompanhados de toques tostados e de especiarias doces, que depois foram abrindo para notas florais, de chá preto e de alcaçuz. Um vinho grande em todos os sentidos, muito bem sucedido para um ano quente, chamando atenção pela textura de taninos e pelo volume de boca. Álcool 14,7%. EM
AD 94 pontos
MAS LA PLANA 2013
Torres, Penedès, Espanha (Devinum R$ 540). Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Cabernet Sauvignon, cultivadas no vinhedo Mas La Plana, plantado na década de 1960, com estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês 85% novas. O trabalho minucioso tanto no campo quanto na cantina é percebido no equilíbrio e finesse do conjunto. Mostra sedutores aromas de amoras, de cerejas e de cassis acompanhados de notas florais, de cedro, de especiarias e de ervas. Impressiona pela textura de taninos e pela vibrante acidez, tudo num contexto de muita precisão. Compacto e profundo, tem final agradável, com toques salinos e de grafite. Álcool 14,5%. EM
Piedra Infinita
Sebastián Zuccardi é filho de José Alberto Zuccardi, um dos grandes nomes do vinho Argentino. Atualmente, ele é um dos líderes de uma revolução pela qual a vitivinicultura argentina vem passando, com diversos enólogos jovens criando vinhos que estão sendo aclamados pela crítica internacional. Um deles é o Piedra Infinita, que vem de Altamira, no Vale do Uco, a “grande fronteira” do vinho argentino.
Sebas, como é carinhosamente chamado pelos amigos, começou sua apresentação dizendo que é considerado um revolucionário, mas “na verdade, tive mais oportunidades que meu pai”. “A próxima geração vai ser melhor”, pondera. Antes de continuar, ele afirmou ainda que: “no vinho não há verdades, apenas visões pessoais”.
Sobre a vinícola no Uco, ele lembrou que a família comprou a propriedade há 12 anos, “quando então não havia nada em Altamira, só pedras”. “Precisamos tirar as pedras, foram mais de mil caminhões”, recorda. Sobre o nome, Piedra Infinita, ele se deve ao nome de um poema de Jorge Enrique Ramponi. Um dos trechos diz: “Piedra es piedra: aleación de soledad, espacio y tiempo, ya magnitud, inmemorial olvido. El hombre quiere amar la piedra, su estruendo de piel áspera: lo rebate su sangre. Pero algo suyo adora la perfección inerte”. Uma tradução livre seria: “Pedra é pedra: liga de solidão, espaço e tempo e magnitude, esquecimento imemorial. O homem quer amar a pedra, seu rugido de pele áspera: ele recusa seu sangue. Mas algo de si ama a perfeição inerte”.
Apesar de ainda ter poucas safras, Piedra Infinita já é considerado um clássico da vitivinicultura argentina
Em sua visão, ele defende que ao se escolher o local de um vinhedo, primeiramente se “define o clima, depois o solo”. No Vale do Uco, há um trabalho intenso de identificação geográfica, sendo que muitos já geraram Indicações de Procedência, como Paraje Altamira, por exemplo. Segundo ele, os grandes vinhos da Argentina estão todos plantados acima de mil metros de altura, mas, lembrou que a altura não é o determinante, pois é preciso combinar fatores como solo e luminosidade.
Durante sua fala, apresentou um mapa de seu vinhedo, que cada vez mais vem sendo subdividido. Suas videiras estão todas em pé franco e foram plantadas segundo seleção massal, ou seja, não há clones. Ele também afirmou que, há seis anos, a Zuccardi não compra barricas novas para seus vinhos.
No entanto, ele disse que a grande mudança que vem ocorrendo nos principais vinhos é a opção pelo concreto. “Fermentamos e guardamos em concreto, pois ele tem um pouco de micro-oxigenação”, revelou, lembrando, contudo, que isso não é algo novo, pois, antes, todas as vinícolas argentinas usavam concreto, depois passaram para o aço inoxidável, e agora voltaram.
Sobre o vinho Piedra Infinita, Zuccardi conta que desde a primeira safra, em 2012, até 2015 (última lançada) havia tantas diferenças que “não parece um mesmo produtor”. Essas diferenças são devido ao clima, que é refletido fielmente pelo terroir e pela Malbec, que, segundo ele, é a uva que melhor traduz os solos argentinos.
AD 93 pontos
ZUCCARDI PIEDRA INFINITA 2012
Zuccardi, Mendoza, Argentina (Grand Cru - não disponível). Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Malbec cultivas em solos com grande proporção de calcário, na Finca Piedra Infinita, em Paraje Altamira, vale do Uco, com fermentação em tanques troncocônicos de concreto sem epóxi e sem adição de leveduras (somente leveduras indígenas), e posterior estágio em barricas usadas de 225 litros. Mostra notas florais típicas da cepa envolvendo toda sua fruta negra de caráter mais fresco. Tem gostosa textura, refrescante acidez e final persistente, com toques salinos e de giz. Álcool 15,4%. EM
AD 95 pontos
ZUCCARDI PIEDRA INFINITA 2013
Zuccardi, Mendoza, Argentina (Grand Cru - não disponível). Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Malbec cultivas em solos com grande proporção de calcário, na Finca Piedra Infinita, em Paraje Altamira, vale do Uco, com fermentação em tanques troncocônicos de concreto sem epóxi e sem adição de leveduras (somente leveduras indígenas), e posterior estágio de 70% do vinho em barricas usadas de 225 litros e 30% em tanques de cimento. Comparado ao 2012, sente-se um pouco mais austero, com taninos mais granulados, mais vertical, mas também mais amável, chamando atenção pelos taninos de excelente textura e lembrando giz. Álcool 14%. EM
AD 96 pontos
ZUCCARDI PIEDRA INFINITA 2014
Zuccardi, Mendoza, Argentina (Grand Cru R$ 1.189). Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Malbec cultivas em solos com grande proporção de calcário, na Finca Piedra Infinita, em Paraje Altamira, vale do Uco, com fermentação em tanques troncocônicos de concreto sem epóxi e sem adição de leveduras (somente leveduras indígenas), e posterior estágio de 50% do vinho em barris usados de 500 litros e 50% em tanques de cimento. Comparado ao 2012 e ao 2013, é mais nítido nos aromas e nos sabores, também mostrando uma mineralidade mais pronunciada. Austero, quase salgado, chamando atenção pela textura de taninos e pela verticalidade, sem comprometer volume e meio de boca. Os efeitos de um ano equilibrando são sentidos aqui. Álcool 14,5%. EM
AD 96 pontos
ZUCCARDI PIEDRA INFINITA 2015
Zuccardi, Mendoza, Argentina (Grand Cru R$ 1.189). Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Malbec cultivas em solos com grande proporção de calcário, na Finca Piedra Infinita, em Paraje Altamira, vale do Uco, com fermentação em tanques troncocônicos de concreto sem epóxi e sem adição de leveduras (somente leveduras indígenas), e posterior estágio de 70% do vinho em tanques de cimento e 30% em barris usados de 500 litros. Foi abrindo com o tempo na taça. Mais grandioso, percebe-se a maior insolação do ano no perfil de fruta mais madura, mas muito bem equilibrada por taninos de ótima textura e acidez refrescante. Tem final persistente e de muita força, com toques salinos e minerais. Álcool 14,5%. EM
Tendências e descobertas
Depois das duas primeiras degustações do dia, a equipe de ADEGA trouxe uma seleção de rótulos que nos encantaram durante o ano. A escolha de quatro vinhos brancos de diferentes produtores “refrescou” a tarde e também serviu para que o público pudesse compreender que nos brancos também há nuances tão importantes e interessantes quando nos tintos, sempre muito mais badalados entre os enófilos.
Longe de “defender a bandeira dos brancos”, o painel mostrou uma grande variedade de perfis, indo de um Vinho Verde pouco comum, passando por um Sauvignon Blanc do Novo Mundo, mas com ares de Velho Mundo, indo para um branco barricado que também não era “convencional”, até chegar a um biodinâmico consagrado como o Clos de la Coulée de Serrant, do cultuado Nicolas Joly.
AD 91 pontos
COVELA EDIÇÃO NACIONAL AVESSO 2016
Quinta de Covela, Minho, Portugal (Winebrands R$ 86). Branco elaborado exclusivamente a partir de Avesso, sem passagem por madeira. Mostra aromas de frutas cítricas seguidas de notas florais, minerais e de ervas, além de cativantes toques de frutos secos. Tenso e vivo, tem ótima acidez, gostosa textura, boa cremosidade e final persistente, com toques salinos e de limão siciliano. Por ser fácil e gostoso de beber, tem a virtude de parecer menos complexo do que realmente é. Álcool 12,5%. EM
AD 94 pontos
TALINAY SAUVIGNON BLANC 2015
Tabalí, Limarí, Chile (World Wine R$ 151). Branco elaborado exclusivamente a partir de Sauvignon Blanc, sem passagem por madeira. Extremamente seco, vibrante, mineral e vertical, tudo em meio a muita fruta cítrica. Uma delícia de vinho em todos os sentidos, aliando textura tensa, bom volume e acidez refrescante, com certa cremosidade. Um Sauvignon Blanc que retrata um lugar como Limarí, cheio de pedras com grandes porcentagens de calcário. Álcool 13,5%. EM
AD 93 pontos
MARQUES DE MURRIETA CAPELLANÍA RESERVA BLANCO 2013
Marques de Murrieta, Rioja, Espanha (World Wine R$ 250). Elaborado exclusivamente a partir de Viura, com fermentação e estágio de 15 meses em barricas novas de carvalho francês. Muito complexo no nariz e na boca, aqui as notas oxidativas, que envolvem as frutas tropicais e de caroço, são parte do estilo do vinho buscado pelo produtor. Impressiona ainda mais na boca, mostrando ótima textura, acidez vibrante e final cheio, longo e profundo, com agradáveis toques salinos. Um grande branco, que tem força e alma de tinto. Álcool 13,5%. EM
AD 95 pontos
CLOS DE LA COULÉE DE SERRANT 2014
Nicolas Joly, Loire, França (Clarets R$ 882). Branco elaborado exclusivamente a partir de uvas Chenin Blanc advindas de vinhedos de mais de 30 anos, cultivados sob os preceitos da biodinâmica, com fermentação e estágio em barricas de carvalho francês de 500 litros. Impressiona pela untuosidade e pela cremosidade do conjunto, tudo em meio a muito refinamento, deliciosa acidez e muita fruta branca e de caroço madura. O fato de parte das uvas colhidas terem a presença discreta de botrytis traz complexidade aromática, através das notas de cera, de mel, de ervas, de frutos secos e de camomila. Tem força, tensão e estrutura para durar décadas. Se for tomá-lo agora a passagem por decanter é muito bem-vinda. Álcool 14,5%. EM
Krohn
“A Krohn é uma marca de nicho, comprada pelo The Fladgate Partnership (liderado pela Taylor’s, o grupo também inclui a Croft e a Fonseca) em 2013, por seus estoques de vinhos antigos em pipas e já engarrafados”, explicou Fernando Seixas, responsável pela América Latina no Fladgate, ao iniciar a degustação de Portos antigos. “Estoque de vinhos antigos é a nossa herança”, acrescentou. “Ou se tem ou não se tem estoque. E a demanda por Vinhos do Porto mais velhos é a que mais cresce”, disse, acrescentando que o estilo Tawny tem sido o mais procurado atualmente. “Quando compramos a Krohn, vimos que o estoque era brilhante, tanto em pipas como em garrafas. E optamos por dar maior identidade à marca. O DNA da marca Krohn são os vinhos velhos”.
A Krohn tem uma história curiosa. Ao contrário da maioria das casas de Porto, que são ou inglesas ou portuguesas, ela foi criada em 1865 por dois jovens noruegueses, com o objetivo de pagar a compra de bacalhau (da Noruega) com Vinho do Porto. Com o tempo, a marca construiu sua reputação por seus Porto Colheita, envelhecidos em casco. O primeiro registro dos Colheitas da Krohn é de 1931 (o primeiro Vintage é de 1927). “Colheita sempre foi (o estilo preferido) das casas portuguesas; Vintage, das inglesas”, apontou.
Valendo-se desse valioso estoque, Seixas selecionou para a degustação um raro Colheita Branco de 1964, além de um Colheita Tinto de 1961. Em relação ao primeiro, Seixas acrescentou uma informação pouco conhecida. A de que a legislação permite que Colheitas Brancos envelhecidos possam ser incluídos nos lotes de vinhos que comporão os Porto Tawny com indicação de idade (10 a 40 anos).
Outra informação importante partilhada foi a importância da qualidade da aguardente vínica, usada para parar o processo de fermentação, que dá ao Vinho do Porto seu caráter único. Como explicou, dos anos 1970 (após a Revolução dos Cravos) a 1990, o fornecimento de aguardente vínica tornou-se monopólio do estado e sua qualidade era muito ruim. Só a partir de 1992, a compra de aguardente vínica foi novamente liberada e cada casa pode escolher o fornecedor que desejasse. O Fladgate compra a sua na França e, segundo Seixas, o fato de o Vintage 1994 ser considerado um dos melhores de todos os tempos se deve, em parte, à qualidade da aguardente vínica.
Na degustação, foram provados os Vintage 1958, 1961, 1965 e 1970 da Krohn, o que tornou possível uma comparação altamente didática de um Colheita e de um Vintage da mesma safra (1961). Ao final, Seixas ainda brindou os presentes com uma surpresa: um Vintage 1963, safra que é considerada pelos especialistas uma das melhores do século XX. Certamente o ponto alto de uma degustação excepcional.
AD 95 pontos
KROHN PORTO BRANCO COLHEITA 1964
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine - não disponível). Nariz impressionantemente vivo, cheio de notas de frutos secos e herbáceas associadas a notas oxidativas, que trazem complexidade ao conjunto. Depois aparecem aromas de figos secos por todos lados, seguidos de toques de gengibre. Mostra ótima acidez e final longo e profundo, com traços salinos e de amêndoas. Notável, raro e inesquecível por conjugar frescor, complexidade e potência. Álcool 20%. EM
AD 97 pontos
KROHN PORTO COLHEITA 1961
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine - não disponível). Impressiona desde o princípio pelo volume de boca e pela profundidade. Mostra cor esverdeada, com um pouco de volátil e esparadrapo no início, depois foi crescendo e crescendo na taça e também na boca, apresentado camadas e mais camadas de aromas e de sabores… Quase oleoso e muito denso, tem tâmaras, figos, algo mineral e de cera, com intensa e vibrante acidez equilibrando toda sua doçura. Longuíssimo e sublime. Álcool 20%. EM
AD 95 pontos
KROHN VINTAGE PORT 1961
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine - não disponível). Ainda com muita vida pela frente mostra cerejas maduras e ao licor acompanhadas de notas especiadas, florais, terrosas e frutos secos. Delicado e intenso ao mesmo tempo, tem acidez deliciosa, ótima textura e final muito longo e sedoso, confirmando o nariz. Álcool 20%. EM
AD 96 pontos
KROHN VINTAGE PORT 1958
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine R$ 5.533). Muito balanceado, num estilo mais discreto e refinado, reflete na taça os efeitos de um ano mais fresco. A menor exuberância é suplantada por equilíbrio, profundidade e precisão, num vinho mais introspectivo, que vai mostrando suas facetas à medida que o tempo passa na taça. Sedutor e cativante, com longo e encantador final cheio de toques florais. Álcool 21%. EM
AD 98 pontos
KROHN PORTO VINTAGE 1963
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine - não disponível). Seguramente entre as melhores safras do século passado, essa amostra fez jus à fama do ano 1963. Ainda pleno e jovem, mostra exuberantes aromas e sabores de cerejas maduras e ao licor acompanhados de notas florais, especiadas, terrosas, de cogumelos e de frutos secos. Super equilibrado, mostra perfeita harmonia e precisão entre potência, untuosidade, profundidade e volume de boca, com excelente equilíbrio entre acidez e doçura. Álcool 20%.EM
AD 96 pontos
KROHN PORTO VINTAGE 1965
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine R$ 1.333). Vivo em todos os sentidos, desde a cor vermelho-rubi translúcida, com leves reflexos acastanhados, passando pelos aromas super frutados lembrando cereja e licor de ginja, até a boca, cheia de frescor, intensidade, textura, tudo num contexto de elegância e finesse. Mostra porque faz tanto sentido guardar os Vintage por décadas. Sem dúvida, um grande vinho quando jovem, mas que com 50 anos adquiriu uma dimensão e um equilíbrio notáveis. Álcool 21%. EM
AD 92 pontos
KROHN VINTAGE PORT 1970
Wiese & Krohn, Douro, Portugal (World Wine R$ 1.333). Apesar de delicioso e muito gostoso de beber, essa garrafa mostrou-se um pouco cansada e com alguns sinais de evolução, apresentando mais características de um Tawny que de um Vintage. Tem ótimo equilíbrio entre doçura e acidez, com final longo e cremoso, cheio de frutos secos. Álcool 21%. EM
RomanéeSaint-Vivant
Nos últimos anos, Romanée-Saint-Vivant tem sido posto no mesmo patamar que Richebourg
Em Vosne-Romanée, logo abaixo do vinhedo de Richebourg, na encosta, fica o Romanée-Saint - -Vivant. O vinhedo foi criado pela Abadia de Saint Vivant no final do século IX. E deve-se dizer que ele está na origem do vinhedo Romanée-Conti. Os “Clos” de vinhedos declarados por Saint-Vivant em 1512 foram “Clos des Neuf Journaux”, “Clos du Moytan”, “Clos des Quatre Journaux” e “Clos des Cinq Journaux”. Os três primeiros correspondem hoje à Romanée-Saint-Vivant. Já o “Clos des Cinq Journaux” foi vendido pela abadia em 1584, quando se tornou “la Romanée”, (sob o comando da família Croonembourg), e, posteriormente, Romanée-Conti, quando adqui - rido pelo príncipe de Conti, em 1760.
O Domaine de la Romanée-Conti arrendou Romanée-Saint-Vivant da família Marey-Monge durante muitos anos até que, em 1988, adquiriu suas parcelas, o que equivale a 56% das terras, cinco vezes mais do que o segundo maior proprie - tário, compreendendo 5,28 hectares, com produção de 15 mil garrafas. “Por termos uma ‘grande’ quantidade, somos capazes de fazer uma seleção no vinhedo, diferentemente dos outros produtores”, apontou Laurens Delpech, cofundador do Le Club FICOFI e responsável legal pela OPTIM Brasil – importador e distribuidor oficial do Domaine de la Romanée-Conti no Brasil.
Segundo apresentação oferecida pelo próprio DRC, o Romanée-Saint-Vivant, em 2001, teria superado em qualidade o seu Grands Échezeaux e, mais recentemente, teria superado até mesmo o Richebourg – considerado por muitos como o terceiro grande vinho do Domaine, abaixo apenas de Romanée-Conti e La Tâche.
Para citar Aubert de Villaine, Romanée-Saint Vivant sintetiza “a delicadeza e a elegância do Domaine, com aromas de grande finesse”. Vale lembrar que De Villaine não autoriza que seus vinhos sejam decantados em uma degustação, então ele solicita que as garrafas sejam abertas com antecedência, especialmente quando viajam para que possam equilibrar a pressão atmos - férica.
AD 94 pontos
ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2011
Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França (Optim US$ 1.600). Ao primeiro momento estava fechado, depois foi se abrindo na taça, mostrando notas de chá, tabaco, groselhas, cerejas, além de ervas, de especiarias, terra úmida e cogumelos. Pura fruta, é gostoso e sedutor, com final persistente, com encantadores toques florais. Álcool 13%. EM
AD 94 pontos
ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2012
Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França (Optim US$ 1.600). Comparado ao 2011, mostra frutas mais maduras acompanhadas de notas de sangue e de chá preto. Apresenta um misto de madurez com austeridade, além de toques animais e de sous bois. Nesse momento, a boca está melhor que o nariz, é muito fluido e sanguíneo, com muita profundidade e persistência. EM
AD 96 pontos
ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2013
Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França (Optim US$ 1.600). Apesar de menos exuberante e chamativo quando comparado ao 2012, é mais austero e vertical, com muita cereja acompanhada de notas florais e de chá. Depois de algum tempo na taça, foi se abrindo mostrando mais camadas de aromas e de sabores. Sutil, refinado e impressionantemente preciso. EM
AD 96 pontos
ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2014
Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França (Optim US$ 1.600). Complexo, mostra muita fruta vermelha (groselhas, cerejas, framboesas) acompanhada de ervas e de especiarias doces, além de toques de trufas e de cogumelos. Ainda um bebê, chama atenção pela força e pela profundidade, com final longo, apresentando traços de sangue e de ferro, confirmando as frutas presentes no nariz. EM