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A jornada de Rodrigo Redmont e da vinícola Talamonti

Entrevista

O “carioca” de Abruzzo é fã de Paulo Roberto Falcão e torcedor da Roma

A vinícola Talamonti fica na região de Abruzzo, no coração da Itália. Mas as degustações que promove têm invariavelmente por fundo musical sucessos da bossa nova. Quem conta é Rodrigo Redmont, dono da vinícola junto com a mulher, Antonella di Tonno. A paixão pela música brasileira, que conquistou o mundo nas vozes de João Gilberto, Tom Jobim e tantos outros, vem do berço. Ainda que hoje seja difícil identificar um sotaque carioca no português que se esforça por falar fluentemente, Rodrigo nasceu no Rio de Janeiro em 1973, filho de um jornalista norte-americano e de uma professora e jornalista portuguesa, embora só tenha vivido na cidade os primeiros dois anos de vida. Mas Maria Manuela Paixão de Magalhães, sua mãe, sempre fez questão de falar português com os filhos (Rodrigo tem um irmão mais velho, nascido em Roma três anos antes).

O pai, Dennis Redmont, trabalhou para a Associated Press por mais de 30 anos, boa parte deles sediado na Itália, onde ele e o irmão frequentaram escolas inglesas e norte-americanas. Mas é do avô paterno, Bernard, também jornalista e herói da II Guerra Mundial, que ele guarda uma recordação muito especial. Para celebrar os 60 anos, Bernard, que morreu com 1998, conduziu a família numa espécie de tour gastronômico para conhecer restaurantes franceses aquinhoados com 3 estrelas pelo respeitado guia Michelin.

Rodrigo, um jornalista “frustrado”, que se orgulha de ter trabalhado como mensageiro no famoso hotel Hassler, em Roma, completou os estudos nos Estados Unidos, especializando-se em Negócios Internacionais. Mas voltou à Itália e foi contratado como gerente de exportações para a Europa na vinícola Castello Banfi. Propriedade de norte-americanos, ela é uma das mais famosas de Montalcino. Começou aí sua ligação profissional com o vinho que continua até hoje. Da Banfi, foi trabalhar como diretor de exportações da Fazi Battaglia, que produz um dos vinhos italianos mais vendidos e mais conhecidos no mundo: o Verdicchio dei Castelli di Jesi, com sua típica garrafa em forma de ânfora romana. Depois, tornou-se sócio de uma distribuidora que representava vinícolas italianas nos mercados internacionais.

Trabuco - O Trabocchetto, na região de Abruzzo, designa uma grande rede de pesca que era presa no Trabocco, uma longa passarela de madeira ancorada por rochas costeiras. Mas durante a Idade Média, Trabocchetto ou trabuco foi o termo usado para identificar as catapultas usadas para atacar as muralhas dos castelos europeus.

De família

Toda essa experiência foi extremamente útil quando se juntou à Talamonti, em 2004. A vinícola fora fundada três anos antes por um grupo de empresários da região de Loreto Aprutino, em Abruzzo. Entre eles, os irmãos Talamonti, que contribuíram com os 15 hectares iniciais de vinhedos (hoje são 45) e que deram nome à vinícola. Entre os sócios-fundadores também estavam o pai, Alfredo, e um tio da mulher de Rodrigo, Antonella, todos nativos da região onde a família também possuía vinhedos e olivais, depois incorporados à Talamonti. A primeira safra foi 2002 e a venda de vinhos com marca própria começou dois anos depois.

Os primeiros tempos da Talamonti foram marcados pelas turbulências na economia mundial provocadas pelo ataque às torres do World Trade Center em setembro de 2001. Nesse contexto, a chegada de Rodrigo, com sua experiência e contatos no mercado internacional, acabou sendo fundamental para o desenvolvimento do negócio.

Mas não se pense que sua ligação com a empresa é fruto do relacionamento com Antonella, com quem tem dois filhos. Na verdade, como ele faz questão de frisar, foi o contrário: “Trabalhamos lado a lado por dois anos antes de iniciarmos o relacionamento pessoal”. Curiosamente, ele recorda que a primeira garrafa de vinho que beberam juntos numa osteria local foi de um Sauvignon Blanc Cloudy Bay, da Nova Zelândia.

Futebol?

Atualmente, Rodrigo e Antonella dividem a propriedade e o comando da Talamonti e da holding sob a qual está abrigada, cujo presidente é Rodrigo. Dela também fazem parte as propriedades agrícolas e a distribuidora que representa a vinícola. O pai de Antonella, Alfredo, tem assento na holding e detém o título formal de diretor da Talamonti, embora não participe de sua gestão, dedicando-se a seu próprio negócio de máquinas para a confecção de tijolos. Antonella, formada em Comunicações e Contabilidade e, segundo Rodrigo, “matemática” frustrada, cuida da produção e controle de qualidade, além de atuar como diretora-financeira da empresa.

O casal mora próximo à pequena cidade de Loreto Aprutino, onde também fica a vinícola. A região, conhecida por sua beleza natural e estações de esqui, fica entre a costa do Adriático e os Apeninos, a 80 quilômetros de Roma. E é famosa pelos brancos à base da uva Trebbiano e tintos à base da Montepulciano, que dão nome, respectivamente, ao Trebì e ao Modà (de Montepulciano d’Abruzzo) da Talamonti. Esse último, frutado e fácil de beber, é o carro-chefe da jovem vinícola, que hoje produz 1,4 milhão de garrafas/ano e obtém 86% de sua receita em 50 mercados internacionais, entre os quais o Brasil. A Talamonti também produz um branco, chamado Trabocchetto, à base da uva Pecorino (não confundir com o queijo de mesmo nome) e um rosé de Montepulciano, uva que também compõe o topo de gama Tre Saggi, uma referência aos três reis magos (veja box), que passa 12 meses em barricas de carvalhofrancês. Azeite de oliva obviamente está presente no portfólio da empresa.

Rodrigo e Antonella são ainda proprietários de outras duas vinícolas na região (Colle Corviano e ILauri), que não estão presentes no Brasil. Nelas, além de Trebbiano e Montepulciano, produzem vinhos com outras castas tradicionais italianas, como Pinot Grigio e Sangiovese. A preocupação com a sustentabilidade é uma constante. Dois exemplos são o fato de os vinhedos não serem irrigados e o uso exclusivo de energia renovável. “Mais que uma aspiração ou missão, a sustentabilidade é nosso modo de vida”, resume Rodrigo.

Nascido no Brasil e criado na Itália, é quase inevitável que o futebol também faça parte de sua vida. Mas ele revela que só se tornou torcedor da Roma, que divide o apoio dos “tifosi” da capital italiana com a Lazio, ainda adolescente, depois de conhecer o craque brasileiro Paulo Roberto Falcão. Na época, Falcão era a principal estrela do time e um dos maiores nomes do futebol italiano, a ponto de receber o cetro informal de “Rei de Roma”.









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