Outras Bebidas
Em 1310, Vital Dufour, um padre francês da cidade de Eauze, descreveu os benefícios para saúde de uma "eau-de-vie" conhecida como "aygue ardente". Em seu manuscrito ele mencionava mais de 40 usos para aygue ardente, nome pelo qual o Armagnac era conhecido naquela época. Esse é tido como o primeiro registro e referência a essa "eau-de-vie".
Quando a Armagnac comemorou 700 anos em 2010, a Gasconha, região sudoeste da França onde ele é produzido, se encheu de orgulho e foi até a biblioteca do Vaticano para receber o documento original do padre Dufour. Durante esse longo período, o aygue ardente ou Armagnac foi produzido em abadias, feito por monges e padres que adicionavam ervas buscando um uso medicinal, pois era o único remédio naqueles tempos. A destilação como conhecemos atualmente surgiu muito tempo depois, por volta de 1650, e o produto artesanal de 1310 se tornou mais industrial sem perder a qualidade
O Armagnac passa por apenas uma destilação e isso faz com que a bebida final seja muito mais potente e persistente em sabor que o Cognac
Terroir
O Armagnac é produzido na França nas regiões de Gers, Landes e Lot-et-Garonne na região antigamente conhecida como Gasconha. O triângulo formado pelas cidades de Bordeaux, Toulouse e Pau delimita por lei desde maio de 1909 a região com a denominação "Appellation Contrôlée Armagnac".
O Armagnac é produzido unicamente com vinhos brancos de 10 castas distintas, as mais comuns são a Ugni Blanc ou Saint-Émilion com 55% da área plantada, Colombard (24%), Baco 22A (17%) e Folle Blanche (4%). Essas variedades produzem um vinho base muito ácido, ótimo para destilação.
A DOC Armagnac se divide em três sub-regiões:
Bas-Armagnac - localizada a oeste, de clima oceânico, onde se produz um Armagnac de boa qualidade, aveludado e muito perfumado.
Ténarèze - região central do triângulo, de solos arenosos, que produz um Armagnac muito mais forte e perfumado do que o de Bas-Armagnac.
Haut-Armagnac - localizada a leste, é a sub-região que produz uma bebida de menor qualidade.
Cognac x Armagnac
É muito comum as pessoas confundirem Armagnac com Cognac, seu primo mais famoso. Os dois pertencem à família dos Brandies que ainda tem Brandy de Jerez, Pisco, Grappa, Bagaceira, entre outros produtos.
A diferença entre eles começa pelas regiões demarcadas e reconhecidas por lei de Cognac e Armagnac. O Cognac utiliza três uvas em sua elaboração: Ugni Blanc, Folle Blanche e Colombard. Enquanto o Armagnac usa as 10 citadas. Outra diferença é o processo de destilação. Enquanto o Cognac é destilado duas vezes, o Armagnac passa por apenas uma destilação. Isso faz com que a bebida final seja muito mais potente e persistente em sabor, sem alterar o teor alcoólico que é de 40% nas duas bebidas. Para finalizar, as duas vão para barris de madeira e ficam envelhecendo por tempos distintos (ver tabela na página anterior). Como produto final o Armagnac já está disponível para consumo mais rápido que o Cognac, que costuma ficar em barris por 20 a 60 anos.
Castarède, Delord e Tariquet
Dentre os mais de 40 produtores de Armagnac vale a pena destacar o trabalho de três famílias. A Maison Castarède começou sua produção em 1832 na cidade de Pont-de-Bordes e é um dos mais antigos produtores de Armagnac. Em 1875, a família Delord começou sua produção na cidade de Lannepax e até hoje seu velho alambique produz apenas 50 litros de Armagnac por destilação, que são comercializados em mais de 30 países. Com um estilo mais moderno, sem perder a tradição do produto, a família Tariquet dirige o Château du Tariquet em Eauze, são três gerações que desde 1900 trabalham e vivem em uma casa do século XVII.
Categorias
O Armagnac pode ser classificado nas seguintes categorias:
3 Étoile (3 estrelas) ou VS (Very Special) – mínimo de dois anos de envelhecimento;
VSOP (Very Special Old Pale) – mínimo de quatro anos de envelhecimento; Napoléon – mínimo de seis anos de envelhecimento;
XO (Extra Old) ou Hors d’Âge – envelhecimento de 10 anos ou mais;
XO Premium – envelhecimento de 20 anos ou mais Millésimes – São os Armagnacs que provêm de uma única colheita e tem o ano destacado no rótulo.
D’Artagnan
Armand de Sillege d’Arthos, conhecido como Athos, Isaac de Portau, conhecido como Porthos, e Henri d’Aramitz, conhecido como Aramitz, são os companheiros de d’Artagnan, que nasceu na região da Gasconha e foram imortalizados no livro “Os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas. Em 1951, em uma iniciativa de General Baston, negociante de Armagnac, e Pierre de Montesquiou-Fezensac, descendente de d’Artagnan, foi criada a Company of Armagnac Musketters. A ideia da confraria é promover a região e o Armagnac. O grupo já tem 3.500 membros que usam uma faixa azul em seus encontros e levantam os copos da bebida para um brinde de abertura.
Blanche
Um decreto datado de 27 de maio de 2005 estabeleceu a criação de um novo produto na região de Armagnac. O Blanche Armagnac é produzido com as variedades Baco 22A, Ugni Blanc e Folle Blanche e tem como diferencial o fato de ser apenas destilado e não passar por madeira, permanecendo sem cor por conta disso.
A maioria dos produtores da região já conta com um rótulo de Blanche em seu portfólio. A ideia é a harmonizar o produto com pratos leves e peixes, mas, acima de tudo, oferecer aos bartenders uma ótima opção para o preparo de drinques com a bebida. É uma forma de modernizar o consumo, que tem mais de 700 anos e quer ganhar novos consumidores.
AVALIAÇÃO
CASTARÈDE ARMAGNAC 3 ÉTOILES
Castarède, Armagnac, França . Cor amarelo-ouro bastante envelhecido. Grande potência em boca, até picante no primeiro ataque e com retrogosto bastante longo. No nariz, apresenta aromas de pimenta, com toques de baunilha e ameixa. Prima pela potência.
DELORD BASARMAGNAC X.O.
Delord, Armagnac, França (Decanter R$ 200). Cor amarelo caramelado bastante intenso. Aromas complexos de frutas secas e tostadas. Nariz excelente. Bastante potente em boca, mas muito sutil, macio e algo melado, com uma persistência muito longa, de retrogosto agradabilíssimo.
CHÂTEAU DU TARIQUET VSOP
Tariquet, Armagnac, França. Cor amarelo-âmbar não tão intensa. O aroma também já denota que ele não é mesmo tão intenso quando outros, apresentando notas amendoadas suaves. Extremamente macio e complexo, fácil de agradar, gostoso de beber.