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Qual a relação entre a cavidade do fundo da garrafa e a qualidade do vinho?

Você Sabia?

Entenda a origem da reentrância e desvende os mitos que perduram até os dias atuais

“Sempre ouvi dizer que quanto mais pronunciada a cavidade no fundo da garrafa, melhor a qualidade do vinho. Isso é verdade?”, questiona o leitor Saulo Pacheco.

Os mitos em torno da cavidade inferior da garrafa de vinho são diversos. Um dos que mais prosperou até hoje diz que quanto mais funda e côncava, melhor a qualidade da bebida. A explicação para isso estaria no fato de os grandes vinhos, com o tempo, produzirem borra e essa reentrância no vidro serviria para que os sedimentos lá se depositassem. Mas, por mais romântica que seja essa lenda, ela não se sustenta.

A cavidade no fundo das garrafas de vinho até hoje é um assunto controverso e inconclusivo. Há diversas teorias em torno do porquê de ela existir – indo desde a facilidade para executar o serviço de vinho até a ilusão de ótica para parecer que há mais líquido no interior do que realmente há – mas as mais plausíveis estão relacionadas às origens do processo de produção das garrafas de vidro.

A explicação mais aceita para a existência da cavidade no fundo é que ela tenha sido formada, originalmente, quando as garrafas ainda eram feitas com a técnica de sopro do vidro quente. Enquanto alguém soprava e trabalhava a massa de vidro, a peça era segurada por um pontil – uma haste de metal de formato convexo – pela base e isso então criava a reentrância.

Não se sabe se essa cavidade tinha alguma função específica na época, além de ser apenas resultado da forma como o vidro era trabalhado. No entanto, há quem cogite a hipótese de que essa reentrância ajudaria as garrafas antigas, cujos formatos podiam variar bastante, a ficarem de pé. Apesar disso, nesta mesma linha, há uma teoria um pouco mais crível, de que essa cavidade era feita para aumentar a capacidade do vidro de suportar a pressão interna do líquido.

Ou seja, nesse sentido, quem teria “inventado” essa concavidade no fundo das garrafas teria sido os espumantes, talvez os Champagnes tão apreciados pelos ingleses, que foram os primeiros a desenvolver garrafas de vidro em escala comercial. Assim, a cavidade serviria para aumentar a resistência do vidro, graças ao aumento da superfície de contato da bebida sob pressão. Isso também diminuiria a ressonância do vidro e, portanto, a chance de quebra durante o transporte.

A técnica de fabricação das garrafas evoluiu muito nos últimos anos fazendo com que essa cavidade não seja necessária para que o vidro suporte a pressão – há diversos modelos no mercado atualmente com fundo liso, inclusive espumantes e Champagnes. No entanto, por que essa reentrância continua sendo quase uma regra para as garrafas de vinho? A melhor explicação, hoje, seria manter a tradição.

E por que há garrafas em que essa concavidade é mais pronunciada do que outras? A resposta definitivamente não passa pela qualidade do vinho e provavelmente está no formato da garrafa. Apesar de existir certo padrão de produção, as garrafas podem variar de formato. O que não pode variar, segundo as leis, é a quantidade de líquido dentro delas. Portanto, é provável que, em uma garrafa mais alta e fina, a cavidade inferior seja maior e, numa mais baixa e larga, menor.

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